sábado, 26 de março de 2016

Roubo, agora, é "golpe"


Dilma diz a jornais estrangeiros que há um "golpe" em curso no Brasil.

Roubo agora golpe  A presidente Dilma Rousseff concedeu nesta quinta-feira (24) entrevista de duas horas à imprensa estrangeira, na qual denunciou "golpe" em curso no Brasil. A ação faz parte da tentativa de buscar apoio internacional contra seu afastamento.
Dilma avalia que seu processo de impeachment tem "vácuo de fundamentos legais". De acordo com o "The Guardian", ela denunciou o que entende por "métodos fascistas" usados por parte de seus oponentes políticos. "Nunca vimos tanta intolerância no Brasil", lamentou a presidente. "Não estou comparando o golpe de agora com o golpe dos militares [de 1964], mas de todo modo poderá quebrar a ordem democrática do país. E isso terá consequência. Talvez não imediatamente, mas será uma cicatriz na vida política nacional", prosseguiu.
Na sequência, informa o "The New York Times", a mandatária atacou Eduardo Cunha (PMDB-RJ), dizendo que o presidente da Câmara dos Deputados pôs a votação de afastamento em pauta para encobrir seus próprios problemas com a Justiça. E acrescentou: "por que eles querem que eu renuncie? Pensam que sou uma mulher fraca? Não sou" , argumentou. "Querem evitar a dificuldade de retirar, ilegalmente e criminosamente, a legitimidade de uma presidente eleita".
Dilma voltou a afirmar que não pedirá renúncia e prometeu "brigar com todas as armas legais", se o Congresso votar a favor do impeachment. "Não vou dizer que é agradável ser vaiada [em protestos], mas não sou uma pessoa depressiva. Durmo bem à noite".
Rousseff também defendeu a nomeação de Luiz Inácio Lula da Silva para ministro chefe da Casa Civil, ao ressaltar que o talento do ex-presidente para a negociação política é fundamental para o momento de crise, e rechaçou o argumento de que Lula estaria buscando amparo legal com foro privilegiado. "Estando no governo, ele responderia à maior Corte do país [Superior Tribunal Federal]. O STF não é bom o suficiente para julga-lo?".
Os jornais convidados foram "Le Monde" (França), "The Guardian" (Reino Unido), "The New York Times" (EUA), "El País" (Espanha), "Página 12" (Argentina) e "Die Zeit" (Alemanha).
Vale lembrar que alguns destes veículos já se manifestaram sobre a crise política do Brasil. Em editorial, o "The Guardian" sugeriu como saída positiva a renúncia da presidente, e o "The New York Times" classificou como "ridícula" a nomeação de Luiz Inácio Lula da Silva à Casa Civil.
Ao longo da última semana, líderes de outros países, especialmente os latino-americanos, posicionaram-se a favor da continuidade do mandado de Dilma. Evo Morales afirmou, em ato público, que "a direita no Brasil quer voltar, mediante um golpe do Congresso e um golpe judicial, para castigar o Partido dos Trabalhadores, o partido do companheiro Lula, para derrubar e processar a companheira Dilma".
Rafael Corrêa, chefe de Estado do Equador, seguiu a mesma linha: "Já não se precisa mais de ditaduras militares, de juízes submissos, de uma imprensa corrupta, que inclusive se atreve a publicar conversas privadas, o que é absolutamente ilegal", disse, em entrevista à TV estatal do país. Tom parecido com o adotado por Nicolás Maduro, presidente da Venezuela: "Há golpe de estado midiático e judicial contra Dilma Rousseff e Lula, líder da nossa América", avaliou, em discurso no Palácio de Miraflores, em Caracas.
Já Barack Obama, presidente dos Estados Unidos, durante visita à Argentina, na última quarta-feira, preferiu não emitir opiniões sobre a crise política brasileira, e limitou-se a dizer que "o Brasil é um país grande, é amigo dos nossos países. A boa notícia é que a democracia brasileira está madura, as leis e as instituições são fortes o suficiente para que isso seja resolvido de maneira que o Brasil prospere e seja o líder mundial que é".
Dilma adotou postura combativa recentemente. Na terça-feira (22), disse em Brasilia que não renunciará ao cargo e que o processo de impeachment em curso no Congresso é uma tentativa de golpe, porque não foi cometido crime de responsabilidade. "Não cabem meias palavras. O que está em curso é um golpe contra a democracia. Eu jamais renunciarei."
A mandatária disse que a tentativa de derrubá-la é tramada nos "porões da baixa política". "Eu preferia não viver esse momento, mas que fique claro que me sobram energia, disposição e respeito à democracia para enfrentar a conjuração que ameaça a estabilidade democrática do país."
As afirmações foram feitas em discurso no Palácio do Planalto, em Brasília, durante encontro com juristas que criticaram o processo de impeachment e a divulgação de gravações telefônicas da presidente interceptadas pela operação Lava Jato.
Ainda nesta semana, os ministros Jaques Wagner (Gabinete da Presidência) e José Eduardo Cardozo (Advocacia-Geral da União) utilizaram o mesmo expediente. À mídia internacional, Wagner disse que um possível impeachment acirrará a crise econômica, e não a contornará.
Fonte: Uol