Bióloga de Araraquara (SP) passou em concurso, mas foi barrada em vaga.
Após 2 anos e dois meses, Justiça determinou que está apta para função.
Fabio RodriguesDo G1 São Carlos e Araraquara
A professora de biologia de Araraquara (SP) que foi impedida de assumir o cargo em um concurso público em 2014 por ser considerada obesa mórbida vai finalmente ter direito à vaga, após decisão da Justiça publicada no Diário Oficial na quinta-feira (5). “Sinto alegria e, principalmente, um alívio”, disse Ana Carolina Buzzo Marcondelli. Ela afirmou ao G1 nesta sexta-feira (6) que vai pedir uma indenização ao estado por conta da humilhação que diz ter sofrido. O valor ainda será decidido.
A Secretaria Estadual da Educação informou que ainda não foi notificada da decisão da Justiça e que a Diretoria Regional de Ensino deAraraquara está à disposição da professora para qualquer informação que ela precisar.
Ana precisa acertar alguns detalhes, como quando e onde vai assumir o cargo. A advogada vai solicitar ainda o retroativo referente ao salário que a bióloga deveria estar recebendo desde 8 de março de 2014. A Justiça determinou novembro de 2015, quando a professora passou pela última perícia.
Aprovada em 15º lugar em um concurso público da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, a bióloga, de 32 anos foi considerada acima do peso pelos exames do Departamento de Perícias Médicas do Estado (DPME) e recorreu do resultado, mas as respostas não foram animadoras. Pela Justiça, ela também não conseguiu uma liminar para ocupar o cargo. Indignada, ela entrou com um processo, mas chegou a desistir de lecionar no estado. “Cansei de ser humilhada”, disse ela na época.
À espera de justiça
A professora contou que, enquanto o caso era analisado pela Justiça, ela seguiu com a vida. Passou a lecionar fisiologia vegetal no curso de biologia de uma universidade de Araraquara e manteve o foco no doutorado na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).
A professora contou que, enquanto o caso era analisado pela Justiça, ela seguiu com a vida. Passou a lecionar fisiologia vegetal no curso de biologia de uma universidade de Araraquara e manteve o foco no doutorado na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).
Em março de 2015, ela decidiu realizar a cirurgia bariátrica, um sonho antigo. “Não foi por conta do concurso, era algo que eu sempre quis fazer e na época que fui reprovada já pensava nisso. Emagreci porque eu quis, não porque alguém me obrigou. Perdi 30 quilos e estou feliz com o meu corpo e continuo saudável do jeito que eu era antes”, relatou a professora que tem 1,65 m e pesava 117 quilos.
Considerada inapta
Ana passou no concurso para lecionar ciências e biologia em Matão. Em fevereiro de 2014, ela fez os exames e em março recebeu o resultado de que não poderia assumir o cargo por ser considerada obesa mórbida pelo médico perito. Ela então entrou com recurso e foiconsiderada inapta novamente em abril. No mesmo mês, entrou com um segundo recurso, que também foi negado.
Ana passou no concurso para lecionar ciências e biologia em Matão. Em fevereiro de 2014, ela fez os exames e em março recebeu o resultado de que não poderia assumir o cargo por ser considerada obesa mórbida pelo médico perito. Ela então entrou com recurso e foiconsiderada inapta novamente em abril. No mesmo mês, entrou com um segundo recurso, que também foi negado.
No primeiro exame o Índice de Massa Corporal (IMC) de Ana foi de 43. O número é considerado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como obesidade mórbida, já que o limite é de 40.
“Em um primeiro momento isso me afetou da pior forma possível. De repente você vive bem, é uma boa cidadã e aí o próprio estado acaba me excluindo, um preconceito que nunca sofri na vida. Foi horrível, quem estava ao meu redor sabe. Depois que passou o momento de raiva e humilhação, pus a cabeça no lugar e falei: vou tirar algo positivo disso. Pessoas que nem me conheciam me apoiaram muito, vi que tenho bons amigos e, com o apoio da família, decidi lutar”, relatou.
Desistir jamais
A professora afirmou que não quer servir de exemplo, mas sabe que não é a única que passou por esta situação. Por isso, disse que as vítimas de preconceito não devem desanimar e desistir, pelo contrário, precisam ir atrás de seus direitos.
A professora afirmou que não quer servir de exemplo, mas sabe que não é a única que passou por esta situação. Por isso, disse que as vítimas de preconceito não devem desanimar e desistir, pelo contrário, precisam ir atrás de seus direitos.
“Todas as lágrimas que derramei, todo nervoso, noites que não dormi de ficar inconformada de não estar dando aula, valeu a pena no final. Eu consegui e a partir de agora espero que os outros consigam também. Existem muitos outros na batalha que são vítimas desse enorme preconceito. Eu fui muito prejudicada e quero que o estado pague por aquilo que me fez passar. Não só a mim, como outros professores também”, afirmou Ana.