Apoiadores de Janot consideram que ele deu ao Ministério Público Federal um protagonismo jamais alcançado
Rodrigo Janot deixa
o cargo de procurador-geral da República neste domingo (17). Desde quando tomou
posse, em 2013, o procurador começou a entrar em um embate com a Polícia
Federal e o seu mandato foi marcado por polêmicas.
Janot tentou proibir a
PF de fechar delações. Ele também exigiu que a polícia não indiciasse
parlamentares com foro privilegiado e tentou impedir delegados de entregar
documentos ao então ministro relator da Lava Jato, Teori Zavascki.
Nos quatro anos de sua gestão, Janot também foi o responsável
por pedir o afastamento do cargo e a prisão de um presidente da Câmara (Eduardo
Cunha) e do líder do governo Dilma no Senado (Delcídio do Amaral). Tentou
prender o presidente do Senado (Renan Calheiros), um ex-presidente da República
(José Sarney) e um dos principais líderes partidários (Aécio Neves ).
Apoiadores de Janot
consideram que ele deu ao Ministério Público Federal um protagonismo jamais
alcançado. Ele denunciou de forma inédita, e por duas vezes, o presidente da
República no cargo (Michel Temer) e mandou abrir investigações sobre a própria
presidente que o havia indicado duas vezes para o cargo (Dilma Rousseff).
De acordo com a
reportagem de Folha de S. Paulo, o procurador-geral e sua equipe fecharam um
recorde de 159 acordos de colaboração premiada, incluindo os 77 da maior
empresa de construção civil do país, a Odebrecht, e sete da JBS.
Na gestão de Janot, a PGR pediu a abertura de 242 inquéritos de
autoridades com foro privilegiado e formalizou 65 denúncias no Supremo.
No entanto, o sucesso das investidas ainda não pode ser avaliado
em condenações. Segundo destaca a Folha, nenhuma ação envolvendo político
investigado pela Lava Jato com foro privilegiado foi encerrada com julgamento
final desde agosto de 2014.
Enquanto Janot foi responsável por produzir inéditas listas de
investigações, abertas por nomes de políticos, críticos da sua atuação
questionam que o procurador deveria ter sido mais 'criterioso'. "Nunca uma
citação de delator poderia ser motivo suficiente para a instauração de um
inquérito, mas foi assim que Janot agiu. Tanto que depois ele mesmo mandou
arquivar", diz Luís Henrique Machado, advogado de Renan Calheiros, alvo de
17 pedidos de inquérito.
LEGADO
José Robalinho Cavalcanti, presidente da ANPR (Associação
Nacional dos Procuradores da República), afirma que as principais mudanças
propostas por Janot foram administrativas internas, como a criação de
assessorias especiais vinculadas ao procurador-geral e uma câmara de combate à
corrupção, que representaram "um salto qualitativo na forma de trabalho da
PGR".
O presidente da ANPR considera que Janot "cumpriu seu dever
de maneira extremamente correta" e "qualquer tropeço que tenha
sofrido no final não apaga o seu legado".
STF
O Supremo Tribunal Federal rejeitou, na quarta-feira (13), o
pedido de suspeição de Janot em investigações contra Temer. Na terça (12),
Janot mostrou que saberá se defender: "Como não há escusas pelos fatos que
vieram à luz, a estratégia de defesa não pode ser outra senão desacreditar, as
figuras responsáveis pelo combate à corrupção".
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