Especialistas ouvidos esperam aumento nas vendas, mas dizem que empresas tentam desovar estoques; entre produtos buscados, chamam a atenção viagens e até pneus.
Começou à meia-noite desta sexta (24) a oitava edição da
Black Friday no Brasil, data de promoções coletivas já consolidada na internet
e que ganha cada vez mais adesão no varejo físico brasileiro.
Os organizadores do evento e
especialistas em varejo ouvidos esperam mais um recorde de vendas e alguns
arriscam até um faturamento superior ao do Natal, com consumidores aproveitando
para
Mas eles
ponderam que, apesar de uma ligeira melhora da confiança e do cenário
macroeconômico em relação à edição de 2016, ainda não dá para falar em uma
"Black Friday da retomada" e muitas empresas devem aproveitar a data
para tentar desovar produtos encalhados.
Para dar conta
do movimento, algumas lojas diluíram as promoções em mais dias, abrem mais cedo nesta sexta (até
mesmo de madrugada) e têm "operações de guerra" para
entregar os pedidos feitos online.
Os
entrevistados destacam o aumento da procura dos consumidores por descontos em
viagens e serviços, além de produtos inusitados como pneus. Os campeões de
busca, porém, continuam sendo os eletrônicos– categoria
na qual não dá para se esperar promoções extravagantes.
Vendas bilionárias
A provedora de
informações sobre e-commerce Ebit estima que as vendas feitas pela internet
chegarão a R$ 2,19 bilhões apenas nesta sexta-feira, um aumento de 15% em relação
à edição do ano passado. Cerca de 3,1 milhões de pedidos são esperados.
As previsões da BlackFriday.com.br, organizadora do
evento oficial, e da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (Abcomm) são
próximas: R$ 2,2 bilhões (alta de 17% ante 2016) e R$ 2,5 bilhões (18% mais).
"A expectativa para este ano é
de mais um recorde de vendas", diz Ricardo Bove, diretor da
BlackFriday.com.br. Segundo ele, entre 70% a 80% de todas as lojas online devem
aderir à promoção coletiva.
"Este ano a gente está extremamente
otimista, muito em virtude da abordagem que o comércio fez em relação à data
nos últimos dois anos. O varejo se dedicou, entregou descontos reais, cumpriu o
prazo prometido", avalia Rodrigo Bandeira, vice-presidente da Abcomm.
"A gente espera que supere o Natal".
Para ele, o estigma da "Black
Fraude" ficou para trás. O termo foi adotado pelos consumidores nas
primeiras edições do evento, quando muitos sites caíram porque não estavam
preparados para o fluxo de acesso intenso e houve muitas queixas de maquiagem
de preço e de produtos esgotados rapidamente.
Agora, destaca Bandeira, as
varejistas aprenderam a formar estoques para a data, negociar preços com a
indústria com antecedência e reforçar a estrutura para melhorar o atendimento.
Na Ricardo Eletro, por exemplo, as
compras para a Black Friday são feitas seis meses antes, junto com as do Natal.
Já a Netshoes contratou 750 funcionários temporários para trabalhar em seu
centro de distribuição na sexta-feira.
A visão de que o evento amadureceu e o setor está mais
preparado para encará-lo é compartilhada por outros especialistas.
"Não tem ninguém fazendo
publicidade pela metade, brincando de marketing [para a promoção]. Todo mundo
vem se preparando muito mais para a data", diz Fábio Sakae,
vice-presidente de produtos e marketing do Buscapé, site que monitora preços.
"Há um movimento mais
qualitativo do empresariado do varejo para honrar com o que está sendo
proposto", diz Júlia Ximenes, assessora econômica da FecomercioSP.
Em 2013, 8,5 mil queixas de consumidores
foram registradas durante a Black Friday no ReclameAqui. Foi o primeiro ano em
que o site fez esse monitoramento. Em 2014, as reclamações explodiram para 12
mil. No ano passado, o número reduziu para 2,9 mil.
As estimativas da Fecomercio-SP para as vendas online na
Black Friday são um pouco mais modestas. A instituição espera um faturamento de
R$ 2,18 bilhões para todo o mês de novembro, uma alta de 16%.
Já para as lojas físicas o
faturamento esperado para o mês é de R$ 55,18 bilhões, mas o aumento é bem mais
tímido: de 8%.
A data de promoções coletivas já a
segunda mais importante no calendário das lojas online, atrás apenas do Natal,
mas ainda perde para o Dia das Mães no varejo físico.
"A Black Friday aquece de forma
significativa as vendas do varejo eletrônico, mas não provoca grandes
alterações em termos de faturamento das vendas físicas", diz Júlia
Ximenes.
Segundo ela, esse movimento acontece
porque existe uma facilidade de crédito maior para se comprar online e porque o
ambiente virtual favorece a pesquisa de preços.
"Comparar as promoções no
varejo físico dá muito mais trabalho", diz.
A assessora da FecomercioSP avalia,
porém, que o evento é uma oportunidade para o e-commerce ganhar visibilidade e
crescer (hoje, as compras pela internet representam apenas 2,5% do varejo,
aproximadamente, segundo os cálculos da instituição).
Retomada?
Para Bove, da
BlackFriday.com.br, o fato de a economia ter apresentado sinais de melhora, mas
ainda não ter se recuperado completamente ajuda a impulsionar a Black Friday.
"O cenário econômico está
melhor do que no ano passado, mas ainda está longe de ser bom. As empresas
estão com estoques ainda altos, precisam desovar. Por outro lado, os
consumidores estão mais dispostos a gastar, mais confiantes".
Guasti, do Ebit, compartilha a
opinião. "O desemprego está mais controlado, mas não temos um cenário
econômico muito mais positivo que no ano passado. Saímos de uma recessão de
três anos, há uma demanda reprimida e o consumidor já percebeu que deixar para
comprar na Black Friday é vantagem", afirma.
"O cenário econômico de fato está mais favorável,
os juros estão em queda e os preços dos produtos básicos estão mais
controlados, então a restrição orçamentária das familías é menor, elas podem
comprar mais. Mas falar em retomada talvez seja otimista em demasia", diz
Júlia Ximenes, da FecomercioSP.
Na avaliação dela, porém, os
estoques este ano estão "bem mais adequados" do que no ano passado.
"Dificilmente vai ter uma liquidação com o objetivo de 'salvar a vida' de
alguém."
Produtos e preços
De acordo com
monitoramento do Buscapé, além dos produtos eletrônicos (celulares, TVs,
computadores) e de linha branca (geladeiras, lavadoras), aumentou para esta
edição da Black Friday a busca dos consumidores (e consequentemente a oferta de
promoções) por itens de moda e o mais curioso, por autopeças.
"Tem muita gente querendo comprar
pneu. No momento de crise, o brasileiro não consegue mais trocar de carro a
cada três anos e precisa de manutenção", diz Fábio Sakae, vice-presidente
da companhia.
Ricardo Bove, da BlackFriday,com,
observa que vem aumentando também a oferta de serviços, como cabeleireiro e
viagens, além do engajamento de pequenas empresas.
"Viagens foi a terceira categoria
mais acessada no ano passado (atrás de eletrônicos e linha branca) e este ano
deve ser novo. Os eletrônicos vão continuar sendo imbatíveis, mas você vai
encontrar até sabonete na Black Friday com a entrada da Unilever", diz.
Segundo Guasti, do E-bit, a maioria
das empresas está anunciando descontos de 20% a 40%, estratégia em linha com a
da edição anterior.
Rodrigo Bandeira, da Abcomm, alerta
que a categoria mais buscada, de eletrônicos, não deve apresentar abatimentos
muito significativos.
"Produtos de tecnologia e
telefonia têm margem (de lucro) muito estreita, mais apertada, descontos
expressivos não são esperados. Se você encontrar um smartphone com desconto de
80% é importante ter atenção, porque pode estar caindo em um golpe."
A Abcomm espera um tíquete médio de R$
246,00 na Black Friday, já o Ebit fala em gastos médios de R$ 650,00 por
comprador.
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