quarta-feira, 19 de abril de 2017

Preso há seis meses, Cunha trabalha com reparos e faz resenhas

Condenado na Lava Jato, o deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) trocou o cargo na Câmara Federal, com direito a assessores, verbas e mordomias como uma residência oficial em Brasília, por um trabalho de até oito horas diárias na prisão.
Desde março, o ex-presidente da Câmara ocupa o tempo trabalhando na manutenção de uma galeria do Complexo Médico-Penal (CMP) de Pinhais, Região Metropolitana de Curitiba. Mais do que uma ocupação, a atividade pode render redução da pena de 15 anos e quatro meses de prisão a que foi condenado no final do mês passado, por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e evasão de divisas.
A defesa ainda pode recorrer, mas como as decisões do juiz Sérgio Moro têm sido confirmadas na segunda instância, todos os réus da Lava Jato têm manifestado interesse em trabalhar.
Ele é um dos detentos responsáveis por reparos na estrutura de uma das galerias da prisão e cumpre uma jornada de 44 horas semanais. A cada dia trabalhado, Cunha ganha o direito de reduzir um dia de prisão.
Seis meses
Nesta quarta-feira (19), Cunha completa seis meses de prisão. Os dois primeiros, cumpridos na superintendência da Polícia Federal em Curitiba. Os outros quatro no CMP, que tem parte de uma galeria reservada para investigados na Lava Jato.
Na cadeira, quando não está fazendo reparos, o ex-deputado participa do Programa Remição da Pena pela Leitura, que também resulta em cortes no tempo total de cadeia.
No projeto, o peemedebista precisa ler uma obra literária e produzir uma resenha por mês, escrita, reescrita e finalizada sob a orientação e avaliação de um professor. Para cada nota acima de seis, são quatro dias a menos de pena.
Seis meses depois de ser preso na Residência Oficial da Câmara dos Deputados, o peemedebista foi condenado a 15 anos e 4 meses de prisão pelos crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e evasão de divisas.
Rotina
Cunha demonstra frieza e não teria esboçado reação nem mesmo quando soube que a esposa, Claudia Cruz, sofreu um acidente, em janeiro deste ano, conforme fontes ouvidas pela reportagem.
Outro costume mantido pelo ex-deputado é o de cuidar da própria defesa, muitas vezes surpreendendo os advogados, como aconteceu em fevereiro, quando leu uma carta em que dizia ter um aneurisma cerebral semelhante ao da ex-primeira dama Marisa Letícia e ainda reclamou da falta de assistência no presídio.

O diretor do Departamento Penitenciário do Paraná (Depen), Luiz Alberto Cartaxo, garante que Cunha recebe a assistência necessária.
“Os cuidados que têm que se tomar já vinham sido tomados por conta do quadro clínico específico dele. Ele é portador de hipertensão, toma medicamento para controle da pressão, tem que tomar todos os dias e isso está sendo religiosamente bem ministrado com todos os cuidados da enfermagem que é próprio do Complexo Médico-Penal, inclusive”, reforça.
Todos os presos da Lava Jato ficam na Galeria 6 do Complexo Médico-Penal, ala destinada a detentos com direito a prisão especial, como criminosos com ensino superior e policiais.
Em cada corredor, são cerca de 70 presos, divididos em celas de 12 metros quadrados, que abrigam três detentos cada. Sobre Cunha, carcereiros não têm reclamação de indisciplina.
“Ele não tem nada de extraordinário em termos de comportamento. Muito pelo contrário. Eu diria que é um preso extremamente disciplinado, comportado, educado, (conforme) informações que eu tenho da direção. Eduardo Cunha não é diferente dos demais”, garante o diretor do Depen.
Luiz Alberto Cartaxo diz que os presos da Lava Jato são cuidadosos. “Eles todos (presos da Lava Jato) são atenciosos com os agentes, tomam cuidado com o que falam, com a forma como falam e se preocupam evidentemente com estarem num ambiente melhor possível dentro do contexto que estão enfrentando.”, destaca.
No corredor onde Eduardo Cunha está detido, estão mais oito réus da Lava Jato, entre eles o ex-ministro José Dirceu, os ex-deputados federais Luiz Argôlo e André Vargas, e o ex-senador Gim Argello.
Na ala, ficam presas pessoas como as que têm ensino superior, policiais e guardas. Outras galerias, às quais os presos da Lava Jato não têm acesso, são reservadas para doentes e feridos.
Eduardo Cunha também responde a uma ação de improbidade administrativa na 6.ª Vara Federal de Curitiba, que em junho do ano passado determinou a indisponibilidade dos bens do ex-deputado, da mulher dele, Cláudia Cruz, do ex-diretor da Área Internacional da Petrobras Jorge Zelada e mais dois investigados.
Procurados, advogados de Eduardo Cunha preferiram não se manifestar nesta reportagem.




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